Tem como pagar? Entenda a “engenharia” do Corinthians para contratações de peso
Para montar um time bastante poderoso tecnicamente, a diretoria corintiana precisou se preparar dentro do mercado. Veja como o processo funcionou.
A temporada 2021 do Corinthians, diferente dos últimos anos, pode ser dividida em 2 partes: Antes e depois da janela de transferências do mês de agosto. O Timão foi ao mercado com ‘gana’ e efetuou 4 contratações de extremo impacto no cenário nacional e internacional: Willian, Roger Guedes, Renato Augusto e Giuliano.
Entretanto, como que um dos clubes mais endividados do país, com cerca de R$ 1 bilhão em dívidas conforme declarações do próprio diretor financeiro do clube, Wesley Melo, em entrevista recente, fez ser possível este tipo de contratação? Como estes jogadores entraram na realidade financeira do Timão? Vamos tentar responder estas perguntas.
Como o Corinthians fez para contratar reforços de peso
Dispensas e negociações
Basicamente, o raciocínio é lógico: Para criar espaço na folha salarial, e reduzir seus gastos, o Corinthians teve que se desfazer de diversos atletas com rendimento abaixo, alto custo ou que sequer estavam no profissional, como no sub-23, por exemplo.
Ao todo, entre dispensas, negociações e liberações, o clube paulista se desfez de 45 jogadores. Veja quem saiu:
Vendas ou saídas em definitivo
- Cazares (Fluminense)
- Marllon (Cuiabá)
- Camacho (Santos)
- Jemerson (fim de contrato)
- Otero (fim de contrato)
Saídas por empréstimo
- Michel Macedo (Juventude)
- Everaldo (Sport)
- Jonathan Cafú (Cuiabá)
- Walter (Cuiabá)
- Éderson (Fortaleza)
- Davó (Guarani)
- Bruno Méndez (Internacional)
- Ramiro (Al Wasl)
- Mateus Vital (Panathinaikos)
- Léo Natel (Apoel)
Empréstimos mantidos em 2021 (jogadores que não retornaram)
- Matheus Jesus (RB Bragantino e Juventude)
- Caetano (CRB)
- Janderson (Atlético-GO)
- André Luis (Atlético-GO)
- Richard (Athletico)
- Madson (Santa Cruz)
- Sornoza (Independiente del Valle)
- Nathan Palafoz (Racing Club de Ferrol)
- Fessin* (Ponte Preta)
*Corinthians paga 100% dos salários para pagamento de dívida com a Ponte Preta pela compra do lateral Matheus Alexandre.
Contratações sem custo diminuem saída de dinheiro
Entretanto, a saída de diversos jogadores não era a única medida a ser feita para que todo o processo de reorganização financeira do Corinthians. Por isso, o clube estabeleceu um perfil de contratações:
- Jogadores a nível de titularidade absoluta;
- Sem custos de contratações ou de empréstimos;
- Mantendo folha salarial abaixo do início do processo de reformulação.
Por isso, definido o perfil, o Timão buscou 4 jogadores com nível de titularidade absoluta, e criou condições de poder “exagerar” nestes casos. Willian, por exemplo, receberá um dos maiores salários do futebol brasileiro. E, o objetivo do clube deve ser cumprido: Mesmo com as contratações badaladas, o custo da folha salarial baixou em aproximadamente 25% em relação ao início de 2021.
Além disso, o clube também busca parceiros para arcar com o pagamento de salários de Willian, que foi a principal contratação corintiana nesta janela. Sendo assim, caso haja sucesso, os vencimentos do jogador custarão ao clube ainda menos do que o previsto inicialmente.
Corinthians está negociando um patrocínio para ajudar a pagar o salário de Willian.
🗞 @geglobo
📸 Rui Vieira/Reuters pic.twitter.com/r6PyVV8tGp— Planeta do Futebol 🌎 (@futebol_info) August 31, 2021
Receita de bilheteria deve elevar novamente orçamento do Corinthians
Outro ponto que o clube conta para equalizar ainda mais o custo da folha salarial, é o serviço de borderô (bilheteria, venda de produtos oficiais no estádio, além de vendas dentro do estádio). De acordo com o Corinthians, a falta de público nos estádios gerou prejuízo de R$ 55 milhões na temporada de 2020.
Com a volta do público aos estádios, o Timão planeja poder voltar a receber uma quantia parecida, já que a média de arrecadação do estádio nos últimos anos foi de R$ 62,2 milhões, gerando recursos para o investimento no futebol, por exemplo.
Veja os valores gerados pela Neo Química Arena nos últimos anos:
ANO | RECEITAS | CUSTOS OPERACIONAIS | SALDO |
2017 | R$ 63,875 milhões | R$ 23,720 milhões | R$ 40,155 milhões |
2018 | R$ 60,573 milhões | R$ 19,487 milhões | R$ 41,086 milhões |
2019 | R$ 62,366 milhões | R$ 23,155 milhões | R$ 39,211 milhões |
TOTAL | R$ 186,724 milhões | R$ 66,362 milhões | R$ 120,452 milhões |
MÉDIA | R$ 62, 241 milhões | R$ 22,120 milhões | R$ 40,151 milhões |
2020 | R$ 7,323 milhões | R$ 2,581 milhões | R$ 4,742 milhões |
Por fim, o Corinthians ainda conta com os recursos da venda de naming rights de seu estádio para a Hyper Farma, que usou a marca Neo Química, de medicamentos, para pagar a renegociação de dívidas do estádio. Por conta da ausência de público, a diretoria do Timão busca melhorar pontos do atual acordo, como baixar a taxa de juros e prolongar os pagamentos, por exemplo.
O acordo é válido por 20 anos, e gerou, de acordo com o jornalista Rodrigo Capelo, R$300 milhões sendo pagos de forma anual (R$15 milhões por ano).