2 de junho de 1962: conheça a Batalha de Santiago, o jogo mais violento da história das Copas do Mundo

A Copa do Mundo não costuma ser, se avaliada historicamente a partir de uma óptica mais panorâmica, um campeonato violento, afinal. Há muito não se vê cenas deploráveis em partidas de mundiais e as imagens que podem ser associadas a este tipo de contexto estão, de fato, cada vez mais fadadas ao passado. Naquele 2 de junho de 1962, porém, quase 66 mil torcedores presenciaram a ‘Batalha de Santiago’, também conhecida como “mãe de todas as pancadarias”. E este é o mais novo episódio da série ‘Em um dia como esse na Copa do Mundo‘, que chega para falar um pouco sobre o contexto que envolve o jogo mais violento da história do torneio até hoje.

Contexto histórico e o início do clima de hostilidade e desejo de vingança

Após ter vencido a Argentina na disputa pela sede daquele Mundial, o Chile precisou lidar com o projeto de construção de toda a estrutura referente ao evento e, tendo em vista as dificuldades financeiras que acabariam chegando, somadas a um terremoto de magnitude 9 na escala Richter em 1960, o país precisou lidar contra várias mazelas sociais que assolam a nação. Apesar do cenário ultrajante da época, o país não abriu mão de sediar a Copa de 1962, conforme viria a confirmar o Presidente Jorge Alessandri.

‘Batalha de Santiago’

Nem a cabeçada de Zidane no zagueiro italiano Materazzi na final da Copa do Mundo de 2006 ou os 16 amarelos e 4 vermelhos distribuídos na Batalha de Nuremberg, ocorrida naquela mesma edição de mundia, é páreo para o que já aconteceu em um jogo de Copa há 60 anos. Chile e Itália foram os grandes protagonistas da “a exibição mais estúpida, terrível, repugnante e vergonhosa da história do esporte”, conforme ficou conhecido o encontro entre as Seleções depois de palavras ditas pelo narrador da BBC conhecido como David Coleman.

Naquele 2 de junho, a partida, há muito aguardada, era válida pela fase de grupos da Copa do Mundo. Havia muito mais do que futebol envolvido, era, afinal, o orgulho do povo chileno em jogo. Hostilizados em textos escritos por jornalistas italianos, a saber, Antonio Ghirelli (Corriere della Sera) e Corrado Pizzinelli (La Nazione e Il Resto del Carlino), os chilenos alimentaram um sentimento de ódio descomunal contra os representantes italianos que chegaram em seu país.

À época, os profissionais foram conhecer o país onde o mundial aconteceria e, depois de tecerem críticas que iam desde sociopolítica à prostituição, alcoolismo, analfabetismo, desnutrição e miséria, criando, assim, um terrível clime insensibilidade e de desconexão da realidade disfarçados de opnião. O episódio gerou a revolta do povo chileno, que foi obrigado, inclusive, a ouvir que “Santiago é horrível”, como chegaram a escrever os jornalistas.

O clima era, de fato, de vingança. Ghirelli e Pizzinelli saíram do país para evitar que coisas muito extremadas viessem a acontecer como consequência das declarações dadas. Precisando lidar com o desejo de vingança instaurado, os italianos vieram para um ambiente nada favorável, vendo, inclusive, que seu gesto de tentar acalmar mais os ânimos e até mesmo de selar a paz entre os lados acabou sendo retaliada pelo torcida adversária, que pronunciava insultos e vaias e chegando, ainda, a apartir para os finalmente contra os jogadores do time adversário. Era evidente, portanto, que o problema não seria resolvido com um simples presentear de ‘buquês de cravos brancos’.

O jogo

Com a bola rolando, o primeiro tempo foi tomado, sobretudo, por jogadas duras, até mesmo com claros objetivos de violência propriamente dita, com direito a socos e chutes evidenciando-se a todo custo. A Itália teve, inclusive, dois jogadores expulsos pelo árbitro da partida. No segundo tempo, José Ramírez fez, aos 73 minutos, o gol que colocou o Chile em vantagem. O gol de cabeça que encobriu a defesa italiana não foi, porém, o único, uma vez que, aos 88, Toro marcou o segundo gol chileno do jogo após felicidade em chute rasteiro no canto esquerdo do defensor da meta italiana.

A vitória em campo, no que diz respeito ao placar da partida, não foi suficiente para cessar o clima de tensão e de violência tomado antes mesmo da partida. As pancadas e trocas de agressões continuaram por todo o jogo, marcando, assim, o que facilmente tornou-se o jogo mais violento de toda a história das Copas do Mundo até hoje.